Desenvolvimento cognitivo

    Piaget estudou o desenvolvimento cognitivo da criança e, segundo este autor, a inteligência constrói-se progressivamente ao longo do tempo, por estádios ou etapas constantes e sequenciais, ou seja, de ordem invariável.

Defende uma posição construtivista/interaccionista: as estruturas do pensamento são produto de uma construção contínua do sujeito que age e interage com o meio, tendo um papel activo no seu próprio desenvolvimento cognitivo.

 

Esquemas de Aprendizagem: categorias mentais que organizam a relação sujeito/meio e as experiências. São muito importantes para a aquisição de conhecimentos.

  • No inicio da vida: Esquemas reflexos inatos (movimentos reflexos. Ex.: sucção)
  • Mais tarde: Aprendizagem:
    • Adaptação: construção de novos esquemas que resultam da
      • Assimilação (processo adaptativo que consiste em incorporar novas informações nos esquemas existentes) e da
      • Acomodação (processo adaptativo que consiste em ajustar os esquemas existentes a novas situações; alteramos os esquemas de maneira a assimilar novas informações).
      • Equilibração, mecanismo regulador da assimilação e acomodação que permite a adaptação do indivíduo ao meio, permitindo uma progressão no sentido de um pensamento cada vez mais complexo.

Os estágios de Desenvolvimento Cognitivo de Piaget, dividem-se em:

  1. Sensio-motor (0-2 anos);

A inteligência da criança baseia-se nas capacidades preceptoras, de acção, e dos comportamentos dos outros.

Noção de uma realidade que não depende de si. Desenvolve a noção da existência dos objectos, de causa, de espaço.

  • Objecto permanente – compreensão de que os objectos existem mesmo quando n estão à vista (ocorre aos 9meses)
  • Surgimento da intencionalidade – age com o objectivo de chegar a um fim. Para isso e necessário a distinção causa - efeito.
  • Divide-se em 6 fases:
    1. Actividade Reflexa;
    1. Fase das reacções circulares primárias;
    1. Fase das reacções circulares secundárias;
    1. Coordenação das reacções circulares secundárias;
    1. Fase das reacções circulares terciárias;
    1. Resolve problemas de deslocamentos invisíveis.
  • Espaço contínuo (dos 18 aos 24 meses) – torna-se num espaço representativo. O espaço contem a própria criança e não existe além dela.
  • Tempo objectivo e representatividade – numa primeira fase passa algum tempo ligado as sensações corporais (se tem fome o tempo nunca mis passa). No entanto, uma criança, numa sequência começa a ter noção do tempo se for ela a iniciar essa sequência.
  • Casualidade objectiva e representativa – está ligado à acção da criança. Passa para uma causalidade magicofenomenista; um pouco subjectiva, tornando-se objectiva (há uma causa e perante um evento ela sabe se o provocou mesmo sem o ter visto)

 

  1. Pré-operatório (0-7 anos);
  • As acções são interiorizadas e passam a constituir as operações.
  • Existem três tipos de argumentos que dão conta das conservações:
    - Identidade - Ex.: não se tirou nem se acrescentou, continua a mesma quantidade.
    - Reversibilidade – Ex.: foi esticada, agora pode-se fazer a bolinha outra vez.
    - Compensação – Ex.: Está esticada, parece mais comprido porém é mais fininha.
  • Representação mental – mecanismo de resposta pelo aparecimento, criar imagens mentais na ausência do objecto ou da acção, é o período da fantasia
    • Surge o pensamento e a função simbólica (através da utilização de símbolos) ou simiótica ( através de utilização de signos) que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização etc.
  • Os objectos existem para a criança na medida em que servem para algo e em função da utilização que a criança lhe dá
  • Pensamento simbólico – não é capaz de raciocínio lógico.
  • Egocentrismo intelectual – acredita que a realidade é aquilo que ela quer. A criança não consegue assumir o papel ou o ponto de vista do outro.
  • Incapacidade de Descentração: Tende a centrar a atenção em um aspecto mais saliente do objecto de seu raciocínio, em detrimento dos demais aspectos.
  • Representação versus significação
    • Significação – parte da capacidade de assimilação através dos significados e dos significantes.
    • Representação é a capacidade de diferenciar e coordenar os significados e os significantes.

·           Significados – acções, objectos

·         Significantes:

o    diferenciados: signos ou símbolos

o    indiferenciados: resultado causal

 

 

 

 

 

 

  • É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objecto ou acontecimento por uma representação e esta substituição é possível, graças à função simbólica.

 

  1. Periodo das operações concretas;

Neste período o egocentrismo intelectual e social (incapacidade de se colocar no ponto de vista de outros) que caracteriza a fase anterior dá lugar à emergência da capacidade da criança de estabelecer relações e coordenar pontos de vista diferentes (próprios e de outrem ) e de integrá-los de modo lógico e coerente (Rappaport, op.cit.). Um outro aspecto importante neste estágio refere-se ao aparecimento da capacidade da criança de interiorizar as acções, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente e não mais apenas através de acções físicas típicas da inteligência sensório-motor (se lhe perguntarem, por exemplo, qual é a vareta maior, entre várias, ela será capaz de responder acertadamente comparando-as mediante a acção mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a acção física).
    Contudo, embora a criança consiga raciocinar de forma coerente, tanto os esquemas conceituais como as acções executadas mentalmente se referem, nesta fase, a objectos ou situações passíveis de serem manipuladas ou imaginadas de forma concreta. Além disso, conforme pontua La Taille (1992:17) se no período pré-operatório a criança ainda não havia adquirido a capacidade de reversibilidade, i.e., "a capacidade de pensar simultaneamente o estado inicial e o estado final de alguma transformação efectuada sobre os objectos (por exemplo, a ausência de conservação da quantidade quando se transvaza o conteúdo de um copo A para outro B, de diâmetro menor)", tal reversibilidade será construída ao longo dos estágios operatório concreto e formal.

  1. Periodo das Operações formais;

 Nesta fase a criança, ampliando as capacidades conquistadas na fase anterior, já consegue raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela é capaz de formar esquemas conceituais abstractos e através deles executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal. Com isso, conforme aponta Rappaport (op.cit.:74) a criança adquire "capacidade de criticar os sistemas sociais e propor novos códigos de conduta: discute valores morais de seus pais e constrói os seus próprios (adquirindo, portanto, autonomia)".
    De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na adolescência, como enfatiza Rappaport (op.cit.:63), "esta será a forma predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos tanto em extensão como em profundidade, mas não na aquisição de novos modos de funcionamento mental".