Método Psicanalítico (Freud)

A associação livre de ideias é um método que Freud desenvolveu com os seus pacientes. Este método consiste em os doentes exprimirem livremente aquilo que sentem sem se preocuparem o sentido das afirmações. Freud pensava que bastaria despertar na consciência recordações recalcadas, para que o paciente conseguisse libertar as emoções congregadas em torno dos sintomas. Com a ajuda do psicanalista, o analisando irá descobrir a linha explicativa dos seus sentimentos, ou sofrimentos.

O objectivo deste método, seria recordar e/ou reviver os acontecimentos traumáticos recalcados, interpretá-los e compreendê-los, de forma a dar ao ego a possibilidade de um controlo sobre as pulsões.

Este processo deveria processar-se num cenário adequado: um divã onde o paciente se deitaria para relaxado falar de tudo o que lhe apetecer. Mesmo o que lhe pareça insignificante deve ser contado. Por detrás do divã, encontra-se o psicanalista, que escuta com atenção o que o paciente conta, tentando compreendê-lo. Fala pouco, mas reenvia ao doente pertinentes interpretações. A análise pode causar sofrimento ao doente, quando isso acontece, o paciente resiste. Cabe ao psicanalista favorecer o ultrapassar da resistência, isto é, tentativa de impedir ou adiar a vinda ao consciente do material recalcado. Este processo (resistência), está relacionado com a importância que os acontecimentos têm na realidade ou na fantasia do indivíduo. É a compreensão do processo interno e a relação com o analista que vão permitir ultrapassar a resistência.

A actualização de sentimentos e emoções, como desejos, medos, ciúmes, invejas, ódios, ternura e amor, que na infância eram dirigidos aos pais e aos irmãos, são agora transferidos para a relação com o analista. As relações imaturas e infantis são como que repetidas e actualizadas através do processo de transferência. A transferência pode ser positiva ou negativa conforme o tipo de sentimentos relativos ao terapeuta.

O psicanalista compreendendo e sentindo, através do processo de contratransferência, esta passagem de sentimentos, vai pela interpretação, devolver ao analisando a ligação desses sentimentos transferenciais com o que se passou na infância.

 

1) Análise dos actos falhados

Foi um triunfo para a arte da interpretação da psicanálise conseguir a demonstração de que certos actos psíquicos, actos para os quais não havia ainda explicação alguma, podiam ser interpretados pela psicanálise.

É frequente no nosso dia-a-dia cometermos um conjunto de acções perturbadas de lapsos: esquecimento de objectos usuais (chaves, carteira, a agenda...), o esquecimento de palavras e nomes perfeitamente conhecidos, trocar uma palavra por outra, não conseguir encontrar a palavra certa, a falsa leitura (ler num texto uma palavra diferente da que está escrita), falsa audição (ouvir uma coisa que de facto não foi dita), certos tiques ou movimentos habituais (cofiar a barba, mexer no cabelo, tilintar o molho de chaves...), cantarolar canções ou melodias sem se dar conta, entre outros. O lapso mais frequente, consiste em dizer ou fazer exactamente o contrário daquilo que se pretende.

Freud dedica um livro a analisar os actos falhados "Psicopatologia da vida quotidiana". Considera que estes comportamentos perturbados têm um sentido que o sujeito não tem consciência. O seu significado só é esclarecido quando se relacionam com os motivos inconscientes de quem os realiza. Os actos falhados resultam da interferência de intenções diferentes que entram em conflito. São os desejos recalcados que dão origem aos actos falhados. É no livro que acima referimos, que Freud dá muitos exemplos que ilustram estas manifestações do inconsciente.

No processo terapêutico, a análise dos actos falhados vai permitir uma melhor interpretação dos sintomas neuróticos do paciente. Assim é concerteza significativo se por exemplo o doente ao falar da tia diz a minha mãe ou em vez de a minha mulher, diz a minha irmã.

 

2) Interpretação dos sonhos

A aplicação da técnica da associação livre aos sonhos, abriu uma nova porta aos abismos da vida psíquica.

Freud considera que a interpretação dos sonhos é o melhor meio para atingir o inconsciente do paciente.

Não foi muito difícil descobrir o dinamismo dos sonhos. É durante o sono que ocorrem os sonhos. O controlo e a censura que o ego e o superego exercem sobre os desejos inconscientes encontram-se atenuados. O material recalcado liberta-se e o desejo, geralmente de natureza afectivo-sexual pode realizar-se. Contudo, a censura não desaparece, está apenas atenuada. Daí que o desejo só se possa realizar de uma forma simbólica, disfarçada, distorcida. Existe, assim um conjunto de mecanismos que visam disfarçar o conteúdo inaceitável do sonho. Todo o sonho é portanto, por um lado, o cumprimento dos desejos do inconsciente, e por outro, um desejo normal de dormir.

Freud distingue no sonho o conteúdo manifesto, ao qual se enfrentam as ideias do conteúdo latente, descobertas a partir da interpretação. O processo que transformou estas últimas no primeiro, ou seja, no sonho, pode ser classificado de "elaboração do sonho". Ao conteúdo latente do sonho, pode também chamar-se "restos diurnos".

O conteúdo manifesto consiste na descrição que o paciente faz do que sonhou, isto é, é a história de que, por vezes, se recorda. No entanto, o conteúdo manifesto do sonho é apenas uma fachada e, por isso, requer uma interpretação: é o analista que vai procurar o sentido oculto do sonho, isto é, o conteúdo latente, implícito. O conteúdo latente consiste no significado profundo do sonho, que é frequentemente incompreensível para o sonhador.

Pensa-se que existem duas categorias de sonhos atribuíveis a fenómenos ocultos:

- os proféticos;

- os telepáticos;

A existência de sonhos proféticos no sentido de que o seu conteúdo representa uma representação qualquer do futuro, não pode ser posta em dúvida, mas fica por estabelecer se essas profecias coincidem de alguma forma com o que mais tarde acontece na realidade. Muito diferente é o que acontece com o sonho telepático.

Ao praticar a interpretação dos sonhos de acordo com o único procedimento técnico que pode justificar-se, logo se adverte que o êxito depende inteiramente da força que a resistência cria entre o "eu" e o inconsciente reprimido.